O Brasil precisa de uma Liga de Clubes forte, independente da CBF, para que mais Neymares, Lucas, Gansos, Dedés, etc... permaneçam um tempo maior (quem sabe até o fim das carreiras) nos clubes nacionais.
Melhores estádios e gramados (a próxima Copa deve contribuir), um calendário elaborado para privilegiar o Campeonato Brasileiro (não permitindo que times percam seus jogadores para seleções ou tenham que ser poupados por conta de outras competições), enfim.. faltariam linhas para discutir todos os problemas que ainda enfrentamos.
O importante é começar "ontem" a solucionar estes impecílios que impedem o Brasil de "poder mais" no futebol e também fora dele.
Reproduzimos abaixo a coluna de Nizan Guanaes, publicada hoje na Folha, com a qual concordamos inteiramente.
Futebol-arte, futebol espetáculo
OUTRO DIA um amigo esteve no estádio. Estacionar foi uma guerra, e ele teve de pagar ao flanelinha quase o valor do ingresso. Para chegar ao portão, foi esmagado com o filho num empurra-empurra assustador, tocado e estocado pela cavalaria. E ele adorou o jogo!Que business, tirando o do sadomasoquismo, conseguiria tratar o cliente no cassetete e ele seguir voltando? Só o futebol. A paixão é sempre o melhor negócio.
Ou não: o negócio do futebol no país do futebol ainda segue aspirante comparado aos supercampeonatos e aos supertimes da Europa.
Mas a presença da Copa do Mundo de 2014, o enfraquecimento europeu com a crise econômica e a nova força da economia brasileira estão transformando o nosso futebol.
Os craques começam a voltar do exílio, os clubes evoluem para empresas e o futebol-arte vira também futebol espetáculo.
A Copa não começou, mas já está entre nós. Não só nas obras dos estádios e de mobilidade urbana que melhorarão a experiência boleira.
Há uma nova geração de dirigentes e de empresários entrando em campo numa irresistível onda de profissionalização.
Empresas especializadas como a 9ine, de Ronaldo, a participação de um craque de sua estatura nesse business, a realização do principal evento de negócios do futebol do mundo, a Soccerex, em novembro no Rio de Janeiro, provam que as coisas já estão mudando.
Neymar ficar é outra prova. Basta ver o desejo das megamarcas brasileiras pelo craque santista para entender o valor do futebol.
Vamos ser criativos e profissionais, que o céu será o limite. Em 22 de outubro, Flamengo e Santos se enfrentarão no Rio de Janeiro.
Mais que um Fla-San, será o clássico Ro-Ney, Ronaldinho versus Neymar, a primeira disputa galáctica do Campeonato Brasileiro em anos. Que marca quer ficar fora desse palco espetacular?
O futebol espetáculo e a Copa de 2014 surgem juntos com a nova prosperidade do Brasil, assim como o jejum entre 1970 e 1994 acompanhou os anos de chumbo econômico, não por acaso encerrados no ano do Plano Real. O futebol explica o Brasil.
Os anos 2010 têm tudo para ser a melhor década do Brasil, e a crônica mundial já notou que os craques estão voltando para o país depois do longo inverno europeu.
Fareed Zakaria, colunista americano, disse na CNN que "um pequeno clube de São Paulo" estava tentando tirar o argentino Tevez do Manchester City por US$ 55 milhões. Zakaria acertou no ângulo ao dizer que aquilo era sinal claro da emergência global do Brasil. Mas chutou para a arquibancada ao chamar o Corinthians de "pequeno clube".
Zakaria pediu desculpas à Fiel, mas, jornalista, pôs o dedo na ferida. Lembrou que o Corinthians, apesar dos cem anos e de milhões de torcedores, não está no ranking dos grandes times pelo lado da receita.
O Real Madrid, que virou global graças a Ronaldo, Roberto Carlos e Robinho, liderou esse ranking com faturamento de € 440 milhões em 2010 -quase R$ 1 bilhão. Isso é futebol de resultado. Nossos clubes podem e devem almejar essas cifras.
A grande transformação dos clubes europeus em grandes empresas globais, com capital aberto e gestão de primeira, bom para os clubes, os torcedores e a economia de seus países, criaram "benchmarks" como o próprio Real, o Barcelona, o Manchester United, o Porto, que estão aí para serem debulhados pelos novos dirigentes brasileiros.
E não devemos nos contentar com o território nacional. O potencial global de times como Santos, Flamengo e tantos outros é evidente: quanto vale a experiência de um Maracanã lotado para um estrangeiro? Muito! Só precisamos empacotar.
A Copa de 2014 não é o evento inocente e paroquial de 1950. É um evento global que tem o poder de organizar uma nação, que põe dia, data e hora para que as coisas aconteçam. Que coloca o país na vitrine e na vidraça do mundo, que estabelece uma pauta objetiva.
O futebol foi nosso primeiro desejo de potência global realizado. Ele projetou o Brasil alegre, inovador, vencedor, bonito, o país do futebol. Nasci em 1958, ano de nosso primeiro título mundial, e cresci marcado por nossas grandes conquistas. Isso formou minha ambição, nossa ambição, de um dia estarmos à altura do nosso futebol, campeões do mundo. Esse dia chegou.
NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC
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